Os efeitos causados pela segunda onda da pandemia da Covid-19 e as medidas de restrição adotadas nos primeiros meses do ano ainda impactam negativamente a percepção do micro e pequenos empresários sobre a economia do país. É o que aponta a maioria dos micro e pequenos empresários do Brasil. De acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae, um a cada dois empresários considera que as condições gerais da economia brasileira pioraram ou pioraram muito nos últimos 6 meses (51%), um aumento de 17 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2019. A outra metade dos entrevistados se divide entre os que consideram que as condições melhoraram ou melhoraram muito (21%) ou não se alteraram (25%).
Cenário um pouco menos pessimista ocorre na avaliação da situação atual das empresas, já que 34% dos MPEs avaliam que houve piora ou muita piora nos últimos 6 meses, um aumento de 7 pontos percentuais em comparação a 2019.
Por outro lado, o cenário de avanço da vacinação e de reabertura das atividades sociais e comerciais parece trazer otimismo aos empresários. De acordo com o levantamento, metade dos MPEs (49%) está confiante ou muito confiante quanto ao desempenho da economia brasileira nos próximos 6 meses. Apesar disso, este número caiu 21 pontos percentuais em comparação com a mesma pesquisa realizada em 2019, mostrando que embora ocorra o predomínio da confiança, ela ainda não recuperou os patamares pré-pandemia.
“Os empresários brasileiros ainda sentem os impactos negativos da segunda onda da pandemia no início do ano, principalmente no setor de serviços, mas o avanço da vacinação traz otimismo para os próximos meses, ainda mais com o aumento nas vendas ocorridas nas últimas datas comemorativas deste ano, em comparação com 2020. O varejo já percebe esse aumento nas vendas e a expectativa é que seja uma tendência para os próximos meses”, afirma o presidente da CNDL, José César da Costa.
A pesquisa avaliou a percepção dos empresários sobre o desempenho de vendas no último mês e descobriu que 41% consideram que foi bom ou ótimo – praticamente o mesmo percentual que em 2019, antes da pandemia. Com isto, os empresários também estão mais otimistas quanto as expectativas da própria empresa: dois a cada três estão confiantes ou muito confiantes no desempenho da empresa nos próximos 6 meses (65%).
2 em cada 3 não fizeram melhorias recentes nos negócios
Apesar do otimismo com futuro, a pesquisa aponta que dois a cada três empresários não implementaram melhorias no negócio nos últimos 6 meses (64%), ante 36% que fizeram. Trata-se de um aumento expressivo se comparado a 2019, quando 42% não haviam implementado, ante 58% dos MPEs que tinham promovido alguma melhoria.
“Esse resultado parece indicar que, embora o empresário brasileiro busque se manter otimista quanto ao futuro do país e da sua própria empresa, ele ainda está cauteloso em materializar suas expectativas em investimentos efetivos que preparem a empresa para um ciclo econômico positivo. O empresário ainda está endividado e focado em se manter aberto”, destaca Costa.
Entre as melhorias realizadas pelas empresas nos últimos 6 meses, destacam-se: reforma da empresa (28%), ampliação do estoque (27%), compra de equipamentos, maquinários e computadores (24%), implantação de vendas ou serviços online (22%) e enxugamento de gastos (21%).
Quando questionados sobre os próximos meses, aproximadamente um a cada três MPEs pretendem investir na empresa nos próximos 90 dias (29%). Entretanto, eles ainda não são majoritários: metade dos MPEs não tem a intenção de investir na empresa no futuro próximo (50%). Em 2019, o percentual dos que pretendiam investir foi maior, chegando a 41%.
Entre os que pretendem investir, os principais objetivos são: ampliar o estoque (28%), investimento em mídia e propaganda (24%), reforma da empresa (24%) e compra de equipamento (24%). Além desses objetivos ligados a expansão da empresa, também se destacou outro aspecto que praticamente não tinha expressividade na pesquisa anterior à pandemia: “conseguir manter a empresa aberta considerando as dificuldades vividas com a crise econômica” (25%).
70% descartam contratar crédito nos próximos 3 meses
A confiança dos MPEs está diretamente relacionada à sua disposição em contratar crédito e realizar investimentos. A pesquisa aponta que poucos empresários querem contratar crédito nos próximos 90 dias (12%). Por outro lado, 43% com certeza não vão tomar crédito e 27% provavelmente não vão contratar nos próximos 90 dias.
Entre os empresários que vão ou que provavelmente vão contratar crédito nos próximos 90 dias, as principais finalidades para o crédito são: aquisição de capital de giro (33%), ampliação do negócio (29%) e compra de estoques e/ou insumos (26%).
“A melhoria da confiança para os próximos meses ainda não foi suficiente para alavancar o investimento nem encorajar o empresariado a buscar crédito. Muitos empresários ainda estão pagando dívidas contraídas nos últimos meses e o endividamento atrapalha ainda mais a busca pelo crédito”, afirma Costa.
Depois de decidir pela tomada de crédito, os MPEs enfrentam outra dificuldade: conseguir contratá-los de fato. Dois em cada três MPEs que querem contratar crédito dizem que é difícil (34%) ou muito difícil (30%) fazer isso no Brasil.
“Quando se trata de pequenos negócios, as barreiras para o acesso ao crédito são ainda maiores. Ao longo da pandemia, programas como o Pronampe buscaram facilitar esse acesso, mas principalmente os MPEs ainda enfrentam barreiras para a contratação de crédito”, destaca o presidente da CNDL.
De acordo com a pesquisa, para levantar recursos, os empresários recorrem principalmente ao capital próprio que haviam poupado (42%) ou a capital próprio a partir da venda de um bem (21%), sendo que este último aumentou 11 pontos percentuais em relação a 2019. Outra estratégia menos recorrente é o empréstimo e financiamento em instituições financeiras (18%).
As dificuldades dos empresários são evidenciadas novamente no último bloco da pesquisa, no qual eles relataram experiências vivenciadas no 1º semestre de 2021. Entre as cinco principais experiências, três são negativas – cortes no orçamento (54%), longo período com a conta no vermelho (33%) e redução do mix de produtos ou serviços vendidos (32%) – e duas positivas – aumento da clientela (43%) e construção de uma reserva financeira (28%).
Fonte: CNDL