A população está vivendo no automático? Como estamos lidando com a aceleração do ritmo de vida e quais são as possibilidades de aproveitar melhor cada momento, sem atenções fragmentadas. A falta de tempo livre e o excesso de informação absorvida pela população foram temas de um estudo para entender mais sobre a relação do brasileiro com o tempo e sobre o ritmo de vida das pessoas.
Essa é a pergunta que uma pesquisa que o Instituto Datafolha e a Eisenbahn realizaram, em parceria, para Ao todo 1.500 pessoas acima de 18 anos, de todas as regiões do Brasil e com acesso à internet, foram entrevistadas.
Um aspecto interessante no mundo contemporâneo é também a tendência de acelerar processos naturais da vida real e que antes só eram possíveis em ambientes digitais. Assim como o áudio do Whtasapp, Eisenbahn e Datafolha alertam sobre a importância de retornar ao ritmo 1x, enquanto a maioria está fundamentalmente em 2x, fazendo uma analogia ao consumo de conteúdos digitais.
Mais de um quarto (26%) dos brasileiros adultos assiste vídeos ou ouve áudios em alta velocidade para supostamente ganhar tempo para resolver outras tarefas. Mas, para além das ferramentas tecnológicas que podem ser aceleradas, a investigação mostra que o público está externalizando isso e realizando funções sem prestar 100% de atenção no que desempenha.
Mas se a tecnologia é um recurso importantíssimo na vida do ser humano moderno: na comunicação, na busca por conhecimento, nos relacionamentos e no consumo. É prejudicial estar conectado o tempo todo, e isso afeta o emocional da população e as suas relações.
Celular ligado, beat acelerado
Estamos consumindo muito mais conteúdos de áudio, de vídeos e até filmes no modo mais rápido, o que resulta em um alerta: a sociedade moderna, como um todo, está sem tempo livre para lazer ou coexiste apenas para cumprir deveres e obrigações, deixando de lado importantes necessidades prazerosas?
Para 73% dos entrevistados, as tecnologias estarem mais presente na nossa vida permitem dedicar tempo às atividades que dão mais prazer. Mas apesar disso, elas mudaram hábitos – o rosto colado ao celular virou rotina em praticamente todos os momentos do dia, e o tempo passa sem que se sinta. Ser multitarefas é cansativo e não gera os resultados esperados, aponta a pesquisa. 72% dizem que às vezes ou nunca conseguem se dedicar completamente às atividades de que gostam sem precisar dividir sua atenção.
Além disso, viver em ritmo acelerado aumenta em 136% a sensação de realizar tarefas no modo automático, sem prestar atenção no que está fazendo.
Um terço dos entrevistados disseram que sim, e declaram viver no automático. Esta questão não está relacionada a momentos de lazer, 19% dos indivíduos manifestaram não terem hábitos para relaxar sem se preocupar com o tempo, mas sim com uma mentalidade de aumentar a produtividade e inserir mais tarefas no cotidiano. O cenário ideal para sair do modo automático é prestar atenção nos detalhes e aproveitar o presente em todos os momentos do dia a dia.
Apenas 9% da população brasileira adulta sente que tem um ritmo de vida calmo, enquanto uma parcela bem maior (43%) declara viver em ritmo acelerado ou muito acelerado. Essa percepção é ainda mais entre pessoas com filhos menores (60%), com renda familiar superior a cinco salários (59%), mulheres (57%), pessoas de 25 a 34 anos (51%) e pessoas da classe C (50%).
A análise busca entender se as pessoas vivem inteiramente o contato com família e amigos, os almoços de domingo, as leituras, os momentos de lazer ou se somente vivem no automático – como respondeu um terço dos entrevistados, que afirmaram realizar tarefas sem prestar a devida atenção ao que estão fazendo. Apenas 23% disseram conseguir se dedicar completamente às atividades preferidas sem precisar dividir atenções.
Metade dos entrevistados que sentem ansiedade quando pensam nas tarefas habituais, por exemplo. Abrir mão de aproveitar o processo das atividades, de enxergar beleza nos detalhes mais rotineiros, para se preocupar apenas com o próximo to do da lista de compromissos é bastante sintomático, alertam os pesquisadores.
A saúde, o autocuidado e hobbies são os temas para os quais a sociedade parece não dedicar muita atenção. No grupo de 25 a 34 anos, 44% destes afirmam faltar tempo para cuidar da saúde e ainda mais entrevistados de outras faixas etárias disseram não ter o tempo desejado para sair com amigos e aproveitar a vida, por exemplo.
Reduzir a velocidade pode melhorar uso do tempo
Para mudar esse dado, é preciso pensar maneiras de como sair do looping da vida em velocidade rápida para considerar mais hábitos de lazer ou incluir a saúde em primeiro lugar. Para 79%, dar atenção à saúde contribui muito para as pessoas dedicarem melhor seu tempo ao que realmente importa.
Dados refletem ainda que 48% da população dedica menos tempo do que gostariam para ler livros, no mesmo patamar dos que condicionam menos tempo do que gostariam para praticar um hobby (47%). A grande maioria, quase a totalidade – 90% – diz concordar totalmente ou em parte que os dias hoje passam mais rápido do que em seu período de infância.
A pesquisa aponta um cenário preocupante em que a comunidade está presa em círculos viciosos de distração, ansiedade e estresse, tentando concluir inúmeras tarefas e obrigações, e que acaba não conseguindo concentrar-se em nada, ou quase nada. Esta é uma das metas almejadas do Instituto Datafolha e da Eisenbahn, depois do entendimento intelectual de todos esses dados sintomáticos, o cenário delineado é que a maioria da civilização está vivendo ‘com a cabeça em outros lugares’, sem compreender grandes parcelas do momento presente.
E de modo geral, uma das reflexões que este conhecimento oferece é: o que dá forma ao futuro é a qualidade de nossa percepção no presente.
Principais conclusões
43% dos brasileiros sentem que vive em um ritmo de vida acelerado ou muito acelerado;
26% da população relata que assiste vídeos ou ouve áudios em velocidade acelerada para sobrar tempo para resolver outras tarefas;
78% concordam totalmente ou em parte que a aceleração da tecnologia e o excesso de informações tornaram mais difícil nos concentrarmos em uma única atividade;
45% costumam mexer no telefone e redes sociais enquanto fazem outras atividades;
80% também concordam que, desde a pandemia, parece que o tempo está passando mais rápido.
Fonte: Consumidor Moderno