Os debates sobre como cultivar a confiança no ambiente de trabalho costumam gravitar na relação entre chefias e funcionários. Embora essencial, essa abordagem representa apenas “metade” da equação para uma boa convivência nas empresas. “Tão importante – ou até mais – é estabelecer confiança entre colegas de equipe”, garante o psicólogo americano Ron Friedman, em artigo na “Harvard Business Review”, publicação sobre liderança da universidade americana. “Afinal, a maioria dos profissionais trabalha em conjunto e grande parte das experiências diárias envolve a interação com outros colegas, muitas vezes sem a presença de um chefe direto”, afirma Friedman, também autor do livro “Como ser feliz no meu trabalho”.
Para o estudioso, não é surpresa que a confiança esteja no cerne das equipes de ponta nas empresas. “Mas a construção da confiança não deve recair apenas sobre os ombros da gestão”, conclui. “Ela não é transmitida de cima para baixo. Nasce organicamente, com base nos comportamentos dos componentes dos times, quando interessados em entregar o melhor trabalho.”
Para investigar como equipes de alta performance constroem “pontes” de confiança entre os integrantes, o estudioso coordenou uma pesquisa com mil profissionais nos Estados Unidos. O estudo conseguiu identificar, segundo Friedman, cinco comportamentos relacionados à construção da confiança e que ainda diferenciam os times que entregam bons resultados daqueles que apresentam baixo rendimento. São eles:
Foco no diálogo e na colaboração
Ao lançar um projeto, os times de alto desempenho têm três vezes mais probabilidade de começar uma missão discutindo primeiro como vão operar juntos – o que abre caminho para menos mal-entendidos e uma colaboração efetiva, relata o estudo. Conversar antes de distribuir os afazeres contribui para “injetar” estímulo em todos e sinaliza respeito pelos pontos fortes e preferências de trabalho de cada profissional.
Compartilhar informações
A transparência sobre informações críticas promove a confiança, estimula a criatividade e o desempenho. No estudo, os pesquisadores descobriram que membros de equipes de alta performance são mais propensos a assumir a responsabilidade de manter os outros informados do que esperar que o chefe o faça. Evite acumular materiais estratégicos e mantenha os colegas bem informados, criando uma cultura de inclusão.
Dividir o crédito
Receber e compartilhar elogios por um trabalho executado é uma oportunidade de criar laços. Equipes com bons resultados parecem mais inclinadas a compartilhar o reconhecimento por suas realizações com mais colegas, agradecendo àqueles que desempenharam um papel crucial no andamento do projeto.
Pequenos desentendimentos fortalecem
Para falar dos debates entre equipes, Ron Friedman recorreu aos estudos do psicólogo americano John Gottman, que identificou características especiais nos casamentos considerados “felizes”. “Casais contentes conseguem tornar os desentendimentos mais produtivos ao evitarem xingamentos e sarcasmo, ao mesmo tempo em que se concentram no que cada um pode melhorar, ao invés de apenas apontar os defeitos do parceiro.”
Assim como as uniões de sucesso, as equipes de performance elevada enfrentam conflitos diários e tendem a acreditar que alguns atritos no local de trabalho podem levar a decisões melhores.
Não encarar a tensão como um problema
Executivos de equipes de alto desempenho são mais propensos a tomar a iniciativa para resolver conflitos. O relatório sinaliza que esses profissionais estão “significativamente” mais interessados em “saber se incomodaram um colega” e de entrar rapidamente em contato com o parceiro. “Pessoas bem-sucedidas no trabalho respondem a contratempos acreditando que os resultados podem ser melhorados por meio do esforço, aprendizagem e perseverança.”
Fonte: Jacilio Saraiva para o Valor