“Os dados não deixam dúvida: milhões de famílias têm deixado de pagar suas contas, muitas delas inadiáveis, como água e luz, enquanto o orçamento da casa escoa para as contas das bets. É um dinheiro que não volta nunca mais.” É com essa tônica que o presidente da FCDL-GO, Valdir Ribeiro, alertou nesta terça (12), em artigo de opinião publicado no jornal O Popular, sobre os prejuízos que o vício em apostas tem causado na economia e no comércio.
No texto, Valdir argumenta que esses sinais negativos já são percebidos, por exemplo, na inadimplência, que tem acelerado nos últimos meses. Leia abaixo a íntegra do artigo.
Bets e o impacto no comércio
Se alguém ainda não acredita que o Brasil está doente, viciado em jogos de azar eletrônicos, basta olhar para os números da inadimplência. Os dados não deixam dúvida: milhões de famílias têm deixado de pagar suas contas, muitas delas inadiáveis, como água e luz, enquanto o orçamento da casa escoa para as contas das bets. É um dinheiro que não volta nunca mais.
Em Goiás, por exemplo, o número de consumidores com contas atrasadas aumentou 2,47% em setembro deste ano, em relação a setembro de 2023. O resultado indica a terceira alta consecutiva no índice, conforme informações do SPC Brasil, o Serviço de Proteção ao Crédito. Comparando da mesma forma, com igual mês do ano anterior, a inadimplência em Goiás já havia crescido 1,32% em agosto e 2,23% em julho, após uma queda de 0,38% em junho.
Na passagem de agosto para setembro de 2024, o movimento foi também de alta, numa elevação de 1,21%. Nesse mesmo período, no Centro-Oeste, a variação foi de 0,59%.
Estudos recentes apontam que o perfil de pessoas viciadas em apostas é, geralmente, de homens desempregados e competitivos, com idade entre 30 e 50 anos. Considerando, claro, as exceções, o maior grupo de consumidores goianos inadimplentes se assemelha muito a esse perfil. É, justamente, de pessoas de 30 a 39 anos (26,19%). Por outro lado, os idosos 85+ são os que têm menos contas atrasadas (1,73% do total de inadimplentes). Na segmentação por sexo, os homens representam 51,33% do público devedor e as mulheres, 48,67%.
Ainda em setembro deste ano, cada consumidor goiano negativado devia, em média, R$ 4.529,09 (somando todas as dívidas). A maioria dessas dívidas está pendente em bancos (59,72%), seguidos pelas lojas do comércio (13,62%) e concessionárias de água e luz (10,20%).
Entidades representativas da área da saúde, de assistência social, do comércio e do setor produtivo em geral têm alertado para esse cenário sombrio, e não há como negar. Fato é que o Brasil vive uma epidemia de vício em jogos de azar, especialmente nas apostas eletrônicas, as bets. Além dos reflexos na saúde mental, na vida social, familiar e profissional, os danos começam a ser percebidos também na economia, com o comprometimento do orçamento das famílias e, consequentemente, no aumento nos índices de inadimplência.
É um problema real, que precisa ser encarado de frente e com seriedade. A inadimplência, por sinal, pode ser só um sintoma de uma teia de problemas muito piores, como o desemprego, o abandono do núcleo familiar, a desestruturação de muitos casamentos, o aumento da população de rua e o adoecimento mental de milhões de brasileiros em Goiás e nos demais estados.
Portanto, a regulamentação da atividade das bets não pode se restringir à letra fria de um papel, de um documento. Tem de se materializar numa rotina de fiscalização, monitoramento e providências efetivadas tomadas pelas autoridades para evitar o descumprimento das regras impostas às empresas que exploram esses jogos.
Valdir Ribeiro
Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO)
Fonte: Assessoria de Comunicação/FCDL-GO