Alexandre Riccio assumiu o cargo de CEO do Inter, uma das principais instituições financeiras digitais do Brasil, após 10 anos na organização. Reconhecido por sua liderança focada em inovação, crescimento estratégico e transformação digital, ele tem ampla experiência em gestão de negócios, pessoas, tecnologia e processos e tem sido peça-chave na expansão do Inter, tanto no mercado nacional quanto internacional, promovendo a integração de serviços financeiros e tecnológicos para criar soluções completas para seus clientes. Riccio também é um defensor da automação e da metodologia ágil, buscando constantemente otimizar a produtividade e a eficiência operacional.
Leia na íntegra a entrevista exclusiva que ele deu ao Seja Relevante após palestrar no 9ª Fórum Anual das Médias Empresas, realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC). Esta edição do evento tem como tema central a produtividade nas organizações de médio porte.
Você defende a importância de trazer pessoas externas, com visão de mercado, para somar e colaborar em projetos importantes, e o quanto isso foi fundamental no Inter. Como isso impacta na produtividade?
Acredito que seja um grande impulsionador de produtividade. Conforme a empresa cresce — e isso é especialmente importante em contextos de expansão — os problemas se tornam mais complexos. O talento necessário para implementar mudanças e projetos que aumentem a produtividade nem sempre está disponível internamente. É possível, sim, desenvolver pessoas de dentro, e isso pode funcionar. No entanto, na maioria das vezes, a combinação de talentos internos com profissionais externos, que já passaram por ciclos de melhoria em outros lugares, acelera o processo.
No Inter, o crescimento está baseado em gestão, pessoas, tecnologia e processos. Você fala muito sobre metodologias ágeis e reuniões de fechamento. Pensando ainda na produtividade, quais outras práticas que vocês adotam para garantir o crescimento sem comprometer a eficiência operacional?
Acreditamos muito na automação de processos. Utilizamos sistemas de BPM (Business Process Management) para automatizar diversos processos. Isso nos dá liberdade, especialmente nas áreas operacionais, e nos permite padronizar processos, reduzir a necessidade de pessoal e melhorar o controle, o que também reduz custos. Além disso, implementamos um processo contínuo de melhoria, no qual avaliamos métricas financeiras e KPIs de produtividade para monitorar o desempenho. Afinal, quem não mede, não gerencia. Sem as métricas corretas, nunca saberemos se estamos realmente melhorando.
Com a expansão para mercados internacionais, um dos desafios é gerir equipes em diferentes fusos horários e culturas. Como é coordenar equipes tão diversas de forma sincronizada e eficiente?
Em termos de fuso horário, isso ainda não é um problema para nós, já que nosso escritório está em Miami. Se estivéssemos na Europa, seria um desafio maior. O ponto crucial no que diz respeito à cultura é que não podemos tentar replicar o modelo brasileiro no exterior. Se estamos nos Estados Unidos, por exemplo, precisamos entender e nos adaptar à cultura local, descobrindo qual é o melhor caminho para o negócio.. No entanto, é essencial ter essa conexão com a localidade para compreender as peculiaridades. Muitos aspectos que são normais no Brasil não são fora daqui. Se tentarmos aplicar o mesmo modelo de negócio, com os mesmos sistemas e hábitos brasileiros, nem sempre dará certo.
E quais são essas peculiaridades? O Brasil pode ensinar algo aos americanos?
O desafio nos Estados Unidos é encontrar uma dor relevante que o cliente queira resolver. É claro que o nosso sistema financeiro, especialmente na parte transacional, é mais avançado que o deles. Porém, o americano não tem a percepção de que pode ter algo melhor. Quando você diz que eles estão atrás, eles respondem: “Não, todos os meus problemas já estão resolvidos”, mesmo que ainda usem mandem cheques em domicílio enquanto nós temos opções de pagamento muito mais ágeis. Nosso desafio é mostrar a eles que há oportunidades de melhoria. Outro ponto é que o americano está habituado a utilizar diversas empresas para resolver seus problemas — banco, cartão de crédito, previdência. No Inter, por exemplo, resolvemos a vida do cliente em um único aplicativo, com qualidade igual ou superior. Quando fiz um curso nos Estados Unidos no ano passado, trouxe essa visão e eles ficaram surpresos. Para eles, é quase como se isso fosse impossível, quase inseguro. Então, há esses paradigmas que precisamos superar.
Fonte: Varejo S.A