A inadimplência no Brasil é uma realidade que impacta milhões de pessoas, refletindo não apenas questões econômicas, mas também sociais e comportamentais. De acordo com o indicador realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o número de inadimplentes no país apresentou uma pequena queda em fevereiro de 2024 em comparação com o mês anterior, atingindo a marca de 66,64 milhões de brasileiros negativados.
No entanto, a pesquisa revela que ainda quatro em cada dez brasileiros estão negativados (40,60%), destacando a persistência desse cenário preocupante. Dentre os endividados com tempo de inadimplência, existe uma maior concentração na faixa etária de 30 a 39 anos, representando aproximadamente 23,66%.
Para Matheus Calvelli, cientista de dados da Stone, esta faixa etária se caracteriza por brasileiros que ainda estão em um momento de busca por estabilização e crescimento profissional. Além disso, o recorte em destaque costuma ser onde pessoas buscam sonhos pessoais, como casa própria e filhos. “A combinação desses dois fatores, de ainda certa instabilidade profissional com o aumento de gastos na busca desses sonhos, pode levar a uma maior necessidade de financiamento e de busca por recursos no mercado de crédito, mesmo em um momento de juros altos promovidos pelo Banco Central (apesar da recente queda), o que por sua vez aumenta o risco de inadimplência e comprometimento da renda”, explica Calvelli.
Momento econômico atual
O levantamento da CNDL também revelou que 30,36% dos consumidores possuem dívidas de até R$ 500 e 44,39% contam com dívidas de até R$ 1.000. “Esses dados indicam que quase metade dos consumidores não têm mil reais sobrando, enquanto quase um terço não tem R$ 500. Portanto, é importante entender quais itens são mais vendidos e montar seleções e promoções com isso em mente”, avalia o cientista de dados da Stone.
Apesar do momento econômico brasileiro não ser dos mais positivos, Calvelli ressalta que dados mais agregados da economia brasileira mostram um cenário mais positivo para o comércio em 2024. “A taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, já caiu para 11,25% a.a desde agosto de 2023, quando tinha atingido 13,75% a.a. A perspectiva é que feche o ano ao redor de 9%. Assim, o mercado de crédito, que já observa alguns dados positivos em termos de trajetória da inadimplência e do comprometimento de renda das famílias, deve se tornar mais benigno aos consumidores ao longo do ano”, pontua.
Caso a expectativa mencionada seja alcançada, há mais possibilidade de liberação de espaço no orçamento das famílias, permitindo uma volta mais acentuada ao consumo, principalmente de bens de maior valor agregado, que normalmente têm suas vendas bastante interligadas com o mercado de crédito do país.
O panorama de inadimplência no Brasil reflete não apenas questões econômicas, mas também a complexidade das dinâmicas sociais e individuais. A análise dos dados mostra que a dívida afeta diferentes faixas etárias e gêneros, exigindo estratégias personalizadas por parte dos empresários. Em um contexto de incertezas econômicas, compreender esse perfil é essencial para oferecer soluções adequadas e contribuir para a recuperação financeira e social desses consumidores.
“Em situações como esta, é importante estar próximo dos clientes, mas é preciso tomar cuidado para não ser inconveniente. Afinal, não há nada pior do que ser bombardeado por propagandas de produtos que não podemos comprar. Portanto, o equilíbrio é a chave, não só para o marketing, mas para as contas do negócio também”, completa o especialista.
Fonte: Varejo S.A